Compartilhando experiências em uma startup Parte 1

Roger Cruz
4 min readAug 14, 2017

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Em outubro de 2015 recebi uma proposta para trabalhar como desenvolvedor web para uma startup. Estudei o caso por alguns dias e aceitei. Era necessário trabalhar localmente e uma mudança se faria urgente.

Vista do prédio onde trabalhei

Até então eu trabalhava em uma agência digital. Projetos de todos os tipos, muitos ajustes, reuniões de time, coordenadores. Um fluxo bem definido de trabalho e todo aquele clima "cool" de agência com alguns mimos e ambiente descontraído.

A possibilidade de trabalhar em um produto também me agradou bastante. O fato de ir para Florianópolis uma cidade onde todos deveriam pelo menos passar as férias, uma vez na vida, pesou na minha decisão. Decisão tomada fiz as malas e parti.

Dia 4 de janeiro de 2016 iniciei minha jornada. Quando cheguei na nova empresa tive que entender o contexto que agora estaria inserido: Entendendo o produto, interagindo com pessoas de áreas diferentes e principalmente adquirindo a confiança dos colegas. O produto faz parte de um sistema de Internet das coisas e tanto o hardware como o software são desenvolvidos pela empresa e precisam ser planejados em conjunto.

Nos primeiros meses procurei compartilhar minhas experiências de trabalho com projetos e times um pouco mais estruturados do que o nosso. A equipe era composta em sua maioria por pessoas com pouca experiência de mercado, recém saídos da Faculdade. Compartilhei experiências e ajudei a implantar na startup ferramentas como Slack, Git e Trello.

Por alguns meses, muito tempo foi gasto planejando o produto e organizando o time. Me mantive sempre motivado. No time contávamos com pessoas de diferentes áreas (Engenheiros de Produto, Engenheiros Elétricos, Matemáticos) e de diferentes países (Cuba, Paraguay, Uruguay, França, Turquia). O choque de cultura era grande mas os benefícios proporcionados por essas trocas eram excelentes.

A experiência trouxe muitos desafios, principalmente no enfrentamento com a direção… Aprendi que muitas vezes as lideranças não compreendiam tecnicamente minha função e acabavam buscando opiniões externas que impactavam o desenvolvimento do produto, as vezes, prejudicando ainda mais por criar desconfiança. Por exemplo: perdi algumas semanas tentando provar os benefícios de se usar node.js e websockets frente ao já utilizado Symfony PHP. Tive inclusive que debater os motivos de não se usar Delphi para uma aplicação real time, o que segundo a visão da direção naquele momento era a ferramenta ideal pois proporcionaria agilidade no desenvolvimento. Por fim vencemos e conseguimos utilizar o Javascript (node e react) como stack para a suite de produtos.

O foco do desenvolvimento foi por muito tempo pulverizado. A necessidade de fazer propaganda para prováveis clientes e investidores que visitavam a empresa fazia com que se trabalhasse em coisas sem sentido, momentâneas e muito específicas… Várias vezes fui surpreendendo em minha mesa pelo CEO acompanhado de um provável cliente com a solicitação de mostrar uma versão especifica do produto. Isso era perigoso pois sem aviso prévio muitas vezes não tínhamos a versão de testes rodando da maneira que esperada…

O fato de meus chefes parecerem, por muitas vezes, desesperados para ter algo pronto fazia com que eles solicitassem funções do software que nem mesmo haviam definido como prioridade, tudo isso foi fazendo com que o período de "lua de mel" com a empresa acabasse drasticamente e as coisas começaram a perder o sentido. Trabalhar com desenvolvimento de produto não é fácil porém trabalhar em algo que não se acredita é quase inviável.

Essa busca por clientes fez com que prazos não fossem respeitados, não tínhamos um plano semanal nem mesmo mensal de releases . A falta de comprometimento com as entregas fizeram com que a minha produtividade fosse diretamente atingida. Um ciclo normal envolvia trabalhar por um mês em algum protótipo e depois retomar o desenvolvimento do produto principal. O CEO não percebia os impactos negativos que essas constantes idas e vindas no desenvolvimento do produto traziam e as vezes perguntava admirado por alguma feature que ele imaginava já estar acabada, não entendia os motivos dos atrasos.

A experiência enquanto desenvolvedor foi extremamente positiva. A liberdade de buscar soluções, mesmo que muitas vezes não aceitas fizeram despertar em mim um senso de urgência. Precisava ser melhor para estar no mercado, estudar mais, ser altamente produtivo e trabalhar com tecnologias que estão em constante desenvolvimento expandiu meus horizontes, fazendo de mim um desenvolvedor um pouco mais preocupado em encontrar a medida certa em se fazer o que gosta e receber o que se entende por suficiente.

Se precisasse aconselhar alguém que estivesse ingressando em uma empresa, seja ela startup ou agência. Diria que antes de aceitar o desafio procurar entender bem, muito bem, qual será sua função, em quais projetos irá trabalhar qual é a visão da empresa para o futuro e o que esperam de ti. Se prepare para o mais difícil. Quando essas premissas não são claras o ambiente passa a ser muito instável e psicologicamente carregado. Mudar para uma startup foi algo muito bom o que recebi em troca foi crescimento profissional e pessoal, no entanto esse ganho teve um alto custo, mudanças de rotina e projeto de carreira… tudo isso foi afetado. Por fim, decidi voltar para minha terra natal, acreditando que um ciclo estava encerrado e novos desafios me aguardavam…

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